Páginas

24.4.13

Tratado sobre o amor e a agricultura

Faz um tempo que tenho viajado com a ideia de ser agricultor do amor.
Explico.
É comum pensarmos no amor como uma coisa além de nós, incompreensível, por vezes intocável. 
Peguei essa ideia do amor que está além do homem (apesar de estar contido nele, de certa forma) e resolvi usar como metáfora pra analisá-lo, a natureza.

A natureza age independentemente do homem.
Tudo que podemos fazer é tentar influenciar no fluxo dela a nosso favor.

Dentre as interações do homem com a natureza, escolhi como modelo de sucesso a agricultura.
O agricultor é aquele que procura entender os ciclos da natureza para saber a melhor hora de plantar e de colher.
Entender o tempo das coisas e saber interagir com esse tempo é o que faz o agricultor ser diferente do geneticista (que altera a natureza das coisas, diminuindo o tempo de maturação ou aumentando o tamanho dos frutos) ou do coletor (que vai atrás dos frutos, se alimenta, mas não sabe cultivá-los. Apenas espera da natureza)

O agricultor age diretamente na terra, prepara o solo, arando e irrigando, tira do caminho aquilo que pode atrapalhar a plantação.
Ele sabe que somente com esforço é possível transformar a natureza ao redor para que ela lhe recompense com bons frutos.
Ele pega as coisas com as mãos, não tem medo de se sujar nessa terra. 
Mas isso não é garantia de sucesso. 
O velho papo do "você colhe o que planta" nem sempre é se aplica.
Claro que se você planta abobrinha não vai nascer morango.
O que quero dizer é que às vezes, por mais que você cuide da sua plantação, pode vir uma geada, uma nuvem de gafanhotos, o solo pode perder a fertilidade.
Enfim, a natureza tem seus revezes, por vezes inevitáveis.
E o agricultor precisa se preparar para eles e entender que eles são parte do trabalho.

Entender quando é necessário fazer uma rotação de cultura. Saber que às vezes é preciso fazer uma queimada controlada para dar um restart no solo.
Eventualmente ele também pode usar pesticidas, mas isso tem seus efeitos colaterais.
Cercas podem ser ou não necessárias, depende de onde ele escolhe fazer sua plantação, de como é sua relação com seus vizinhos. Se é uma relação de posse e competição ou se é uma parceria respeitosa.


Na agricultura, assim como no amor, nada acontece do dia pra noite.
Cada fruto tem seu ciclo, seu tempo de maturação. Algumas coisas na natureza acontecem uma vez por estação, outras o ano todo.
E o agricultor/amante precisa ser paciente. Com a natureza de si e a de fora de si.
Cada encontro se desenvolve do seu jeito.


Se o agricultor não se dedicar com atenção à sua plantação, quando chegar a hora de vender seus frutos ou oferecê-los aos outros, eles podem estar mirrados, bichados, podres, não maduros. Não que às vezes não seja importante oferecer frutos imaturos pra deixá-los maturar na companhia de outro agricultor, mas um fruto podre não vai agradar muita gente.

Cabe a cada um ser agricultor do amor que quer ter ao seu redor. 


Acho importante encarar o amor de frente, pega-lo nas mãos. Conhecer as ervas daninhas da sua plantação, saber quais frutos te agradam de verdade.


A natureza é grandiosa, pode nos surpreender, mas ainda assim podemos desbravá-la. Sabendo a hora de colocar energia e a hora de abrir mão. Sem arrogância e também sem vitimizar-se.
(Substitua a palavra "natureza" por "amor" no parágrafo acima)


Enfim, monocultura, cultivo aberto, hidropônica, extensiva, orgânica...
Como e o quê você tem plantado ao seu redor?