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19.6.11

O homem de paletó e bons sapatos

O homem de paletó e bons sapatos faz barulho.
Sua mão treinada busca latas no fundo da lixeira amarela. 
Uma após a outra. Conquistas vazias, sem nenhuma expressão de vitória, satisfação ou insatisfação.
Vira no chão o resto de coca-cola, que é nada.
Descarta um canudo, que é nada.
Fica só com a moeda de troca.
As abelhas não o estorvam.


Mesmo havendo outras lixeiras, o homem de paletó e bons sapatos procura somente nessa.
Será que ele lê? 
E vai atrás somente da palavra "metal"
Ou talvez saiba que a cor amarela nos cestos de lixo significa "metal".
Será que sabe o que é "metal"?
Ou só está condicionado a compreender que, por algum hábito estranho, as pessoas jogam latas sempre naquela lixeira da ponta direita?


O homem de paletó e bons sapatos (talvez não tão bons, se você olhar bem) caminha de uma lixeira para outra. No caminho espia de soslaio um cesto de lixo avulso, preto, e nada encontra.
"Bem treinada essa gente", talvez ele pense, "só joga latas em cestas amarelas"
O que facilita o trabalho do homem de paletó e bons sapatos.


Ele passa na minha frente. Sacola branca nas mãos, resoluto, paletó e corpo surrados.
Vai embora.
Vai fazer pão de lata.
O que o faz ser homem?



15.6.11

1.

Tons de cinza.
Mais para o lado da claridade. Cortados por uns relances desbotados de verde musgo.
Tráfego leve, abafado pelo vidro fechado. Água fervendo. O movimento suave do rabo da gata preta.
Otávio sentado na janela do apartamento.




Roupa de ficar em casa, do sétimo andar, olhando pra fora (mirando pra dentro) mal nota a tarde de domingo passando lá fora.
Intrigado com o roberto freire, levanta com o livro na mão, dedo médio marcando a página, e começa a caminhar com um passo meio torto (de quem ficou sentado tempo demais) por sobre livros, mesa de centro, papéis, desviando do sofá.

A gata acompanha com olhos amarelos e preguiçosos, a travessia.

Chegando até a caixa de feira no canto da sala, onde estão os lp’s herdados do tio, ele abaixa, fuça por algum tempo até achar o vinil duplo procurado. 
Com o indicador da mão que segura o livro corre a lista de músicas até achar: disco 2, lado a, 4ª faixa.
Bate no botão do toca discos. Abre tampa.
Agulha no vinil.

O seu amor
Ame-o e deixe-o
livre para amar

O seu amor 
Ame-o e deixe-o  
ir aonde quiser

O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz

O seu amor
Ame-o e deixe-o
ser o que ele é

Escuta tudo em pé. Encarando o disco girar. 
Não o agrada muito o andamento da música.
Mesmo assim, abre o livro. Repassa a análise: “através de um jogo inteligente e preciso de linguagem, faz confundir o seu amor (objeto) com o seu amor (sentimento)”

Fecha o livro olha pra janela.
As palavras dos doces bárbaros rebatendo na cabeça com as do roberto.

Re-lê na contracapa:
“Declaração do amante anarquista:
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.”
Já leu essa frase, dois anos atrás e havia feito todo sentido do mundo.
Relembra com o corpo sensações, cheiros, sorrisos, pele.


Sente o roçar da gata passando entre as pernas.

Lembra que esqueceu da água no fogo.
Se desvencilha desse paradoxo e corre pra cozinha, desliga o fogão, vê que metade da água evaporou.

Mesmo assim, despeja a água pouca na xícara que já havia sido preparada com dois saquinhos de chá de erva doce.

Põe a chaleira na pia. Volta à sala, xícara sendo assoprada numa mão, livro na outra, vai se acomodando na janela. Senta. A gata deita enrolada na sua frente.
Ele, com a sensação de outra pele registrada no peito.
Volta a olhar pela janela.
Sopra o pouco chá, faz carinho na gata.

É.
Vamos nós.




11.6.11

Não pensar

Fiz um novo som: 


Helena


em
myspace.com/musicanajanela

9.6.11

O que não adianta esconder

"Há meros devaneios tolos a me torturar"

8.6.11

Próxima lição

Outra da Tiê. Só dá pra ver esse clipe nesse link, pelo youtube não rola
http://www.cifraclub.com.br/tie/dois/

Se Julieta fizesse canção




6.6.11

E algum remédio que me dê alegria.

Mal comecei a ler o Barthes (tipo, faz uns 19 segundos), e já desando a citar trechos do livro.


"4. Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum."


hum. 
Já está fazendo efeito.

2.6.11

Música na Janela

Lançando o novo espaço:
http://www.myspace.com/musicanajanela


Gravei "O quereres" do Caetano Veloso

A gravação tá bem tosca, tô com sono e o agudo tá foda.


Mas é o que tem pra hoje.


(ATUALIZAD - 06/06 : Tirei a música. O refrão tava irritante, depois gravo de novo)