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19.4.11

Meu passeio com Pina (e suas belas antíteses).

Introdução: acabei de voltar do espetáculo “Ten Chi” da Pina Bausch Tanztheater Wuppertal, cia da falecida bailarina e coreógrafa alemã, Pina Bausch. 1° vez que vejo ao vivo.

Senti vontade de dançar (básico).
Muita vontade.
De rasgar o espaço. Entrar num estado selvagem de bailado sem fim, des com passado, in certo, entregue, trôpego, lacerante, preciso (em muitos sentidos).
Não amei tudo, ainda bem – a primeira parte do segundo ato foi um saco, além de alguns momentos que apelidei carinhosamente de “shut up and dance!”.

Estavam lá. Corpos-em-vida (diriam Eugênio e Luis Otávio) que me arrebataram pela pura entrega. Indubitável.
Fazer.
Fazer com tudo.
E continuar fazendo.
...

No intervalo encontrei uma bruxa conhecida, que já foi minha irmã em outras vidas (mas nesta, nos conhecemos há pouco), trocamos umas poucas palavras, falamos do desejo de dançar, das inquietações. Isso foi mais um fator para somatizar meu desejo por rodopio.
Havia também a mão que tocava a minha, uma das saias sobre os ombros, um braço que roçava o meu, joelhos se tocando, partes do corpo companheiras de outras tantas danças, as de alcova e as de sala de ensaio. Esse contato constantemente me lembrando de que ‎"quando falar torna-se impossível, é preciso dançar!"
...

Já havia visto vídeos de Dominique Mercy, dançarino francês da cia, mas nada se compara a sentir o que aquela vida em movimento emana. A fúria calma dos movimentos de incerta precisão.
Senti a vida que me foi, a que me pulsa, e as milhares que podem vir a ser. Tava lá. Lembrei de meus mestres, dos caminhos que escolhi e mudanças que quero experimentar.
Fui transpassado com violência pelos corpos que cruzavam o ar, faziam flutuar o papel picado que os banhava, meio neve, meio sakura.
Ao fim um desejo de explodir. (quando vejo, já to emanando reiki, os chakras escancarados) Esmagando a mão que toco, pedindo apoio para o salto.
Uma japonesa (Azusa Seyama), presa em um movimento hipnotizante, uma fuga que se repetia, repetia, repetia...


Fim.
Fico introspectivo, não quero aplaudir e com medo de dispersar o que aconteceu. Fico lá um tempo, deixando as coisas se assentarem. Deixando o corpo digerir. Vem o pranto. Contrações pelo corpo viram um soluço. Vontade de se desfazer, de não levantar.


Senti vontade de morrer.
(Não uma vontade depressiva. Aquela boa, do tipo: “Caralho, agora posso morrer satisfeito”, que vem depois de algumas experiências transcendentais.)

Saí entorpecido, estimulado, vivo, com amor. Como se afetado por uma droga pesada, que conheço de algumas outras experiências artísticas.
Essa ainda vai me afetar por um bom tempo.