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29.1.11

Uma suadinha pra ficar esperto.

    Quer entrar em forma na sexta feira às 23h?

    Vamos por partes. O episódio de hoje das “Peripécias sobre duas rodas”.
    Você chega do trabalho, come alguma besteira, pensa em sair, ver pessoas, mas bate um leve bode e você resolve curtir sua casa nova um pouco.
    Então liga a TV, se atualiza sobre a situação tensa no Egito, vê uma matéria sobre doação de medula óssea e pensa que faz tempo que você não doa sangue, e que talvez seja uma boa aproveitar pra, na próxima vez, já entrar pro banco de doadores de medula.
    Aí pensa, “vou dar uma volta de bike, espairecer um pouco, comprar uma revistinha”.
    É quando um dos caras que mora com você está para ir ao mercado. Como ele está sem bicicleta, pra facilitar a vida do cara, você oferece a sua, empresta a chave do cadeado com o característico “cuide como se fosse minha”.

    Enquanto aguarda o retorno, come mais umas besteiras (4 nuggets de legumes, por exemplo), assiste um pouquinho do jornal da cultura e começa a assistir ao filme “Rainha”, no mesmo canal.

    Abre parênteses: “Rainha” retrata a semana da morte de Lady Di, do ponto de vista da família real (em especial Rainha Elizabeth II, com quem não tinha boas relações) e do primeiro ministro britânico na época, Tony Blair. Um filme simples, com uma fábula sobre a realidade, com atores muito bem caracterizados e bons diálogos, carregados de humor e sotaque britânico, mostrando um pouco da curiosa relação da monarquia com o parlamento, prestando o devido respeito à figura mítica que foi Diana Spencer.
Fecha parênteses

    Bom, o camarada chega com sua bike, mas pô, o filme é legal, você pensa “vou assistir mais um pouco” e de pouco em pouco você conclui que vai querer ver até o fim.
    Até que você se dá conta de uma coisa: se você esperar o filme acabar não vai conseguir passar na banca de jornal (que fecha à meia noite)
    Sim, você é um leitor inveterado de quadrinhos, e tem consciência de que, quando chega esse momento em que você sabe que não vai sair e interagir com gente, uma história em quadrinhos da uma boa distraída (principalmente quando você não está com muita cabeça pra estudar coisas “sérias”)

    Eis que, às 23h,  da o intervalo e você pensa: “Posso ir voando na banca, compro algo, e volto, perdendo só uns 10 minutinhos do filme, nada grave" (na verdade uma grande concessão de sua parte, afinal você não tem o hábito de perder trechos de filmes).
    Diante de tão genial idéia, você nem pensa duas vezes, pega sua bicicleta e desce aquela famosa ladeira em direção ao centro de barão geraldo. Você pensa: " passo na banca, volto, termino de ver o filme e depois vou dar uma volta maior, como de costume" (você tem esse mal hábito de dar umas longas voltas de bike a noite, sem capacete ou luzes – não que você já não tenha feito coisas piores sobre duas rodas, quando os níveis de serotonina estavam muito baixos. Crianças, não façam isso em casa!)
    Desviando das baladas, chega ao “agitado” centrinho, prende a bike, entra na banca, escolhe algo rapidamente (com um certo homem morcego na capa), paga e volta até o local onde você prendeu a “magrela” (você odeia essa expressão para se referir à bicicletas, mas para não dizer “bike” novamente, escolhe esse termo, visando manter a fluência do texto), põe a mão no bolso e sente que a algo errado com seu chaveiro.

    A pequena chave com base plástica preta, que abre o cadeado, não está lá. 
    Em um segundo você revê os últimos acontecimentos e chega a conclusão que não pegou de volta a bendita chave com seu companheiro de república. 
    Ok, a banca vai fechar logo mais, não é saudável largar sua bicicleta em barão geraldo parada à noite sem supervisão por muito tempo.

    Ora.
    Bora correr pra casa pra pegar a chave reserva!

    Nada como estar levando uma vida sedentária na frente de um computador e ter a linda idéia correr uns 3 km, ida e volta, (você olhou no google maps para dar mais veracidade ao relato) de ladeiras, usando havainas.
    Você sempre foi de andar e correr bastante então isso não é um “probleeeeema”, só não tem praticado muito, machucou o joelho recentemente, tava já de pijama vendo filme antes de sair de casa. Logo é uma aventurazinha.

     Aiai. Corre, corre, corre,sobe ladeira, puff, puff (na falta de uma onomatopéia melhor), balada, corre, corre, uuhh, corre, entra em casa, pega a chave, preguiça de botar o tênis, sai de casa, corre, corre, desce a ladeira, puff, corre, balada, puff, corre, pensa em escrever sobre isso no blog, corre.
     Quando chega perto o suficiente para ver a bike, relaxa, começa a diminuir a velocidade, aí o joelho esquerdo da aquela fisgadinha, do tipo “achou que eu não ia aparecer?”, mas logo passa. Chega na bike e torce pra chave reserva funcionar. Ok. Respira... Abriu. Ufa...
    Sobe na bike e volta.
    Chega às 23h35. 35 minutos de aventura. A tempo de ver os últimos 5 minutos do filme. Bonito.

    Senta. Sua. Sente a panturrilha dar uma puxadinha. Sente também um leve cheiro ferroso (provavelmente uns vazinhos rompidos nas narinas, pela respiração forçada inesperadamente), toma um leite pra repor proteínas – algo importantíssimo depois de execícios, ok crianças? – e contabiliza uma bolhinha no pé direito, bem aonde sobe a tira da havaiana entre o dedão e o indicador.

    Sentado na frente da tv, bota tudo no papel (força de expressão) e pronto.
    Ta aí. Arranjou um jeito de driblar a solidão, praticar a escrita, retomar as atividades físicas.
    É, não foi tão mal assim.

   1h45 da matina. Só falta o sono.