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8.5.11

Ver-ter [ou] Toccata sem Dó, em 3 movimentos (para se ler num fôlego só)


1.
Ver-ter.
Verto. Verto sangue escarro lágrima verto porra violência um suspiro eu verto cuspe e o que outrora mastigara o que me enche o que me passa e se me der uma chance verto até o que não há em mim.    
Verbo humano é verter.
Do instante em que se nasce enquanto se cresce para se reproduzir e em todas as mortes.
O que o bicho homem faz é verter
O que ele quer é ver/ter


2.
Corpos roçando.
Tentando encontrar na fricção da superfície cutânea um modo de esquentar o coração.
O jogo repetitivo marcado incerto vendido e comprado, levado a hipérboles vertiginosas e abstratas.
Pra sair da anestesia só mesmo uma paulada na cara.

3.
Arte pra gastar a energia. Arte para o prazer para o deleite (não só degustativo)
Para minar a violência (física moral gratuita) uma arte que atue na adrenalina do conflito, do salto, que faça aquele que frui (o ainda ex-pectador) se mover correr cantar cortar os pulsos pular corda o escambau, algo que o lembre da vida que pulsa nele e no filhodaputa que está do seu lado (e que é seu irmão). Lembrar que o jeito de se equilibrar nessa roda maluca é abrir os braços.
Que o ponha pra verter além de ver/ter.
Até se bastar. Ou ver no que dá.

Da capo al fine (?)